segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Presente de grego


Região que já foi sinônimo de pujança econômica e crescimento industrial hoje se transformou em desafio para seus prefeitos. Políticos que assumem os Executivos do Grande ABC a partir de 1º de janeiro de 2017 verão apenas em livros de História e relatos dos mais antigos a época em que as sete cidades viviam dias de protagonismo nacional para lidar com realidade de altos índices de desemprego, extensas listas por espera de vagas em creche, obras paradas, aumento da procura por serviços públicos, Saúde deficitária e imobilidade urbana.
Só neste ano faltaram 15.780 vagas em creches municipais somando seis das sete cidades, exceto Ribeirão Pires que não informou o deficit, conforme levantamento do Diário realizado em março. Além disso, 226 mil pessoas estão sem emprego na região, de acordo com os dados de outubro da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), elaborada pela Fundação Seade e pelo Dieese. Obras de mobilidade e urbanização também pouco progrediram nos últimos meses, como a finalização dos corredores de ônibus de São Bernardo e Mauá e melhorias no turismo de Ribeirão com a construção do teleférico Cidade Encantada.
A situação crítica afeta desde moradores mais velhos a jovens com Ensino Superior. Um dos casos é o da estudante de Psicologia Fernanda Fontinhas, 28 anos, que está à procura de trabalho. Moradora de São Bernardo e formada em Hotelaria e Turismo, Fernanda está desempregada há um ano e dois meses. “Estou fazendo alguns trabalhos temporários, mas por tempo curto e ninguém quer assinar carteira (de trabalho) nem nada. Eu não sou bolsista, meu pai está me ajudando a pagar a faculdade, mas no ano que vem terei de me virar. Eu estou pagando um site de empregos para ver se arrumo vaga. Se não conseguir um emprego, vou ter de trancar a faculdade porque neste ano faltei muito devido a cirurgia na vesícula, por este motivo não conseguiria bolsa para o ano que vem ”, relata.
“Estou procurando em qualquer área, o que aparecer eu vou aceitar, mas está difícil. A crise está feia mesmo. Meu marido está afastado do emprego por conta de um acidente, mas não está recebendo salário porque, apesar de o INSS já tê-lo liberado para voltar ao trabalho, a empresa não aceita e ele não tem como procurar outro emprego por conta do afastamento”, diz a analista de RH e mãe de dois filhos Kátia de Carvalho Ribeiro, 42, residente de Santo André e desempregada há oito meses.
Além de desempregada, a moradora de Ribeirão Pires Priscila Goulart, 23, enfrenta outro problema: não consegue vaga em uma creche pública para sua filha de 7 meses. “Quando ela ainda tinha 2 meses eu fiz a inscrição na Secretaria de Educação para conseguir uma vaga, mas eles estavam sem. Em setembro, procurei um advogado, que entrou na Justiça e conseguiu liminar para que minha filha pudesse ficar na creche. Mas, apesar de eu ter levado o documento (jurídico) autorizando a vaga, a moça da secretaria informou que não poderia dar o lugar para minha filha mesmo com ordem da Justiça. Então, meu advogado continua tentando”, lamenta.
Mãe de gêmeas de 1 ano, Rebecca Eller Oliveira, 20, está na mesma situação. “Estou desempregada há cinco meses. Eu estava trabalhando há três anos em uma ótica e tive de pedir as contas porque, depois de quatro meses de licença maternidade, não tinha conseguido vagas para creche. Na época morava em Diadema. Agora moro em Santo André e também não consigo creches aqui. Há dois meses entrei com pedido de liminar por meio de um advogado para conseguir a vaga, que deveria sair em novembro, mas me disseram que a possibilidade ficou para janeiro. Eu não consigo trabalhar porque não tenho com quem deixá-las.”
Como remédio amargo para a crise, Paulo Serra (PSDB) e Orlando Morando (PSDB), prefeitos eleitos de Santo André e São Bernardo, respectivamente, disseram apoiar medidas de austeridade econômica, entre elas a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 241, que irá congelar os gastos do governo federal, apenas com reajuste corrido pela inflação, por até 20 anos. Gabriel Maranhão (PSDB), reeleito em Rio Grande da Serra, foi outro a elogiar publicamente a PEC.
“Na perspectiva econômica e social, (os novos prefeitos) terão de mostrar resultados dando continuidade e avançando nas políticas públicas. É uma região industrializada, com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) entre os mais avançados do País e grande consciência social. Portanto, a cobrança será maior e, para isso, terão que contar muito com o governo do Estado. Com tendência de aumento das taxas de desemprego, as pessoas passam a depender mais da assistência social do Estado, que no Brasil é precária, para dizer o mínimo. Ou seja, como governar em tal cenário que, ao invés de ampliar os investimentos para incentivar a produção, congela por 20 anos com a PEC 241? A história é dinâmica. Espera-se que tais governos eleitos atendam aos desafios, mas caso não o façam, o Grande ABC, por sua trajetória histórica, saberá quais os caminhos adotar para fazer prevalecer suas expectativas”, avaliou a cientista política da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo Jaqueline Quaresemin.
“Há expectativa que deverá ser atendida no curto prazo se o horizonte for mesmo às eleições de 2018. É muito e pouco. Muito para manter um discurso de demonização das esquerdas, de dirigentes, do Lula (ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva), do PT, de movimentos sociais, e é pouco para mostrar a que vieram, antes que se iniciem os debates sobre eleições presidenciais”, continuou Jaqueline.
Em consonância, a pesquisadora do Instituto Opinião Raquel Moreno pontuou aumento do perfil conservador dos novos governos. “O povo, via de regra, leva algum tempo até perceber quais são as melhorias e quais são as perdas que ele sofreu com a mudança dos governantes. Sabe-se que o neoliberalismo está apostando fortemente na reversão das conquistas sociais particularmente da população mais carente, além de traçar políticas privatistas, diminuindo o papel do Estado, e o povo termina saudoso dos tempos e projetos que o favoreciam mais. É provavelmente o que deve acontecer também na região. As prefeituras, já com orçamento apertado, e com uma visão compatível com a do governo Michel Temer (PMDB) também mostrarão a que vieram.” 
Via DGABC

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