sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O ENSINO DA CULTURA ANTIRRACISTA NA ESCOLA

* Professora Michele Cristina Francisco

Ensinar sobre a cultura africana e afro-brasileira nem sempre é fácil para muitos professores. Contudo, o conteúdo é obrigatório perante a lei 10.639/03 e mais ainda para o combate ao racismo e ao preconceito. O trabalho se torna muito mais fácil quando se tem um Projeto Político Pedagógico adequado que atenda a um currículo bem elaborado.

Para que um conteúdo seja de fato absorvido é preciso que ele seja discutido. Melhor ainda se houver a colaboração de todo o corpo docente na elaboração das aulas. Ideias interdisciplinares é uma ótima escolha quando se trata de um assunto tão vasto como é o estudo da África. Porém, para dar certo, é necessário que haja planejamento. Tabus e ideias retrógradas devem ser repensados para que o estudo não caia no abismo do ensino racista. É muito comum que o ensino da África se resuma apenas nas aulas de História, onde o continente aparece somente na linha do tempo do período colonial. A África não é só isso. A África é muito mais.

A educação no Brasil tem um formato catequético graças aos europeus que aqui estiveram e delegaram à Igreja o papel de ensinar. Mesmo após a expulsão dos jesuítas do país, outros setores da Igreja ficaram com a incumbência da educação e mantiveram o jeito tradicional do Cristianismo. É claro que desde quando a escola tornou-se laica o ensino de outras religiões (e, por conseguinte, as de matriz africana) começaram a surgir nas aulas de Ensino Religioso.

Contudo, o modo como religiões como a Umbanda e o Candomblé ainda são ensinadas com uma linguagem inadequada. Na contramão desta realidade, há também estabelecimentos de ensino que fazem questão de ensinar os alunos a respeitar uma religião que nem sempre é igual à deles. São escolas que ocupam casas e terreiros, onde mais importante que aprender Matemática ou Português é aprender a respeitar o próximo independente de sua raça, cor ou religião.

É preciso pensar na importância de fazer os alunos aprender que os povos africanos encontraram muitas vezes na religião a ligação com sua ancestralidade. Eles mantêm nos terreiros suas memórias orais e sentimentais e, o mais importante disso tudo, eles têm orgulho de todos os ensinamentos que aprenderam de geração em geração.                                                                                                                   
Com essa idéia em mente, podemos novamente nos valer da lei 10.639/03 que, em seu artigo 79-B Parágrafo terceiro, prevê a inclusão do dia 20 de Novembro como o “Dia Nacional da Consciência negra”. Em uma escola que inclui a cultura africana em seu currículo, este dia não pode passar despercebido. Porém, fazer com que este seja o único dia para falar sobre a cultura africana e afro-brasileira não faz sentido nenhum para os alunos e eles encaram como mais um dia não letivo ou feriado de descanso.

O ideal é que o ensino dessa cultura já faça parte do cotidiano escolar para que no dia haja de fato conscientização da comunidade escolar, através de debates e discussões de como o negro é tratado hoje e de como podemos colaborar para que episódios preconceituosos fiquem definitivamente no passado.

Como podemos observar, há muito que trabalhar sobre a África na sala de aula. Os professores deverão pesquisar e desenvolver materiais didáticos que contemplem a diversidade racial. Com foco nas indicações da lei, há lugar para todas as vertentes de estudo, esta é a chance de descobrir a África de modo verdadeiro e humano.     
                                                                                                                           
* Professora Michele Cristina Francisco formada em Letras e Pedagogia e atua na Educação Infantil II do Colégio Renil.

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